Onde quer que esteja, faz-me falta as estações bem demarcadas: primaveras com a vida a nascer; outonos com rituais de recolhimento e tardes frescas a apetecer o casaquinho com mangas bem compridas a roçar o anel; verões quentes para ficar perto do mar, pé na areia, corpo ao sol; invernos frios e secos, com chuva nos fins de semana – para, em momentos de tédio ou numa tentativa de exercitar o não pensar em nada, contar as gotas de água que caiem no vidro e criam quadros abstratos que logo se diluem.
Fico presa à fluidez da matéria, às vezes. Acabo presa a reflexões filosóficas ‘caseiras’, outras vezes. À volta da chuva dos dias de inverno! Às vezes apetece-me escrever. Outras ir para a cozinha fazer bolachas de gengibre. Bebericar chá, chocolate quente, ou um copo de vinho tinto. Com ou sem mantinha nos joelhos.
Onde quer que esteja, faz-me falta as estações bem definidas que mudam a intensidade da luz dos dias. Que fazem aparecer e desparecer o sol. Que espalham o vento. Que mudam a cor do céu e, às vezes, se apropriam dele montando espetáculos de luz e som.
Gosto das grandes trovoadas que se fazem anunciar com relâmpagos vermelhos. Das estações bem demarcadas, evoluindo com encantamentos. Seduzindo-me com feitiços. E eu deixando-me seduzir.
Amanhã é o primeiro dia de outubro. E o outono que tarda! Se ao menos (eu) continuasse a viver perto do mar, talvez pudesse mergulhar nos prazeres de um pouco mais de verão! Neste mar imenso da fotografia.