Sétimo dia de outubro. Sete dias de um novo mês. As manhãs refrescaram. As madrugadas convidam-me a fechar a janela e aconchegar o lençol ao queixo. Um friozinho atrevido entra no meu quarto adentro. Arrebatador, marcando presença. Impetuoso, temperamental.
As noites refrescaram. Cada dia mais cedo, mal nasce a lua. Segunda, terça, quarta-feira… é outubro a entrar por a minha vida adentro. E a mudar a paisagem lá fora: as folhas da parreira ficaram cor de fogo; de manhã, a salsa ainda concentra a presença do orvalho noturno.
Mas entre uma coisa e outra, os dias são quentes. Ainda. Dias cheios de preguiça ao sol, espreguiçando-se com braços invisíveis no muro branco de cal, no quintal da casa. E a uma distância confortável da janela do meu quarto, um cuco continua a cantar até o entardecer.
Distrai-me o seu canto repetitivo. Enlouquece-me o seu canto repetitivo. Tantas vezes dou por mim perdida! Incapaz de traduzir a linguagem deste lugar.
E caminho assim, a este ritmo cheio de contrastes. De amanhã à procura da tarde, neste labirinto de sinais e emoções, na esperança de um outono cheio de surpresas boas. E se elas não vierem, ao menos terei a chuva e as trovoadas para me entreter e inspirar. E, com um pouco de sorte, talvez até possa ser mais criativa! E, então, valerá a pena todas as tempestades.