O calor de casa

29 Jul

Mertola

Mertola (fim da manhã)

Passo muito tempo sem ver o Alentejo. Sem ir a casa, a de família. Onde estão as minhas raízes. E o amor está sempre certo. Vou ficando por aqui, a cerca de 250 km de distância, a maior parte das vezes arranjando desculpas para não fazer o caminho. No inverno vou dizendo que está muito frio. No verão argumento que está muito calor e que já não estou habituada às temperaturas alentejanas. Ao princípio não havia desculpas para o Natal, para a Páscoa e para uma semana no verão. No total, somava pelo menos três semanas a sul. Mas, nos últimos anos, só cumpro o Natal com religiosidade. No resto do tempo, sem compromissos vou quando sinto vontade de ir. Aquele tipo de vontade urgente que provoca dores num órgão sem nome, que habita dentro de mim. Ou quando sei que a minha presença faz alguém particularmente feliz. Não perguntei nem ela me pediu, mas imaginei como deixaria a minha mana nesse estado de alegria se aparecesse para passar o aniversário dela. Fiz-lhe a surpresa e surpreendi-me também. É mesmo verdade que quando nos dispomos a dar, recebemos muito mais. Sob esse céu azul limpo de manhãs temperadas e casas brancas, mas também do calor escaldante das três (horas) da tarde, passei três dias perfeitos. Com horas preenchidas pelos verdadeiros prazeres – as conversas em família, as lembranças e os mimos trocados, o pequeno mundo à volta da cozinha (as panquecas têm outro sabor). A atmosfera de carinho que depois se estende aos amigos com que cresci e partilharam sonhos quase até à idade adulta. Cuidando do amor que me liga a este pequeno grupo de pessoas, esqueço o meu mundo na cidade, a rotinas, os medos, as dificuldades. Pouso a cabeça e ofereço o ombro. Deixo-me ir, deixamo-nos ir todos juntos.

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